quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Foi quando eu morri pela primeira vez que percebi que a certeza era mais uma dessas brincadeiras infantis inventadas em tempos esquecidos. Para que não parecessem brincadeiras irrelevantes, acreditei nelas, tão forte possivel quanto minha ignorancia permitiu. Costurei para mim um manto da verdade (que me cubrisse por completo, deixando apenas dois pequenos orificios nos olhos, para que meu olhar rebelde não pudesse ir em outra direção que não fosse a minha frente, meu horizonte reto, concreto e linear), semeei no escuro um chão onde eu pudesse sentir alguma firmeza ao caminhar e treinei meus passos para que não corrompessem o caminho. Eu me fiz certo.

Só quando escutei o movimento dos labios dela que tudo ruiu, envelheceu, rachou e desmoronou dentro. Eu não havia percebido. Fui assassinado pela primeira vez por volta das 3 da manha de uma noite de festa, morri afundando submerso pela agua escura que me envolvia e infiltrava o alicerce dos meus sonhos. Cidades inteiras desmoronavam em mim. Não respirava e não sentia falta de ar, enquanto me afastava da superficie podia apenas fitar os olhos da mesma ignorancia que ainda insistia em mover-me.

Sinto saudade das brincadeiras das crianças