quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Sua vista estava turva, os fiapos de luz que sutilmente tocavam seus olhos eram como esfumaçadas auréolas azuis. Lembrou-se das nuvens, da calmaria que mostravam enquanto empurravam o céu manso. Estava calmo agora, os membros estendidos, absolvidos, era quase uma nuvem, seus pensamentos cheiravam a nuvem, sopravam. Achou-se suspenso, não mais a céu aberto como antes, já não caia, agora era como se almofadas o pressionassem de todos os lados e por não ter por onde esvaziar-se, por não ter opção alguma, estava suspenso.
Afrouxou de leve a boca e foi bem aí que alguma coisa entrou, alguma coisa sagaz, de inicio com toque de lingua, mas depois com rudez de unha invadiu com violencia brutal a garganta indefesa, e iria mais fundo senão fosse algo lá dentro, lá do mais profundo escuro, da carne mais abissal, de onde vem a força de viver sem saber. De lá do fundo veio um trovão que tremeu e se contorceu com ainda mais violencia pra expulsar de vez o invasor.
De subito sem dar-se conta alcançou a superficie, já não estava mais suspenso e era forçoso se manter, pesava como ferro. Não só ele como as nuvens.

Chovia como o inferno

Nenhum comentário:

Postar um comentário